Introdução
È sabido que a Exegese é a interpretação profunda de um texto bíblico que contém em si práticas implícitas e intuitivas. O objetivo central do exegeta é aplicar o texto bíblico ao contexto cultural da época do texto lido, e conseqüentemente extrair dele os princípios morais e culturais para a atualidade.
Aqui buscar-se-á trabalhar o texto do capítulo 9 do livro bíblico de Apocalipse, cuja autoria é do Apóstolo João, discípulo amado de Cristo. O capítulo 9, assim como todo o livro de Apocalipse, João atribui a uma revelação divina que recebera da parte de Deus quando estava na ilha de Patmos, exilado “por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo”, como está registrado em Ap. 1.9 e também em Ap. 1.1.
O nome Apocalipse vem do termo grego “apokalypsis”, que significa revelação, daí a expressão “Livro da Revelação”. Apocalipse é um livro essencialmente profético que se evidencia no Novo Testamento. O livro aborda de forma simbólica, metafórica e muitas vezes até indecifrável o futuro da humanidade, profecias sobre o fim do mundo, além da vida eterna, salvação e condenação eterna. O livro apocalíptico por carregar mensagens subjetivas e até surreais para realidade vigente é visto com certo preconceito por muitos.
O capítulo 9 do livro de Apocalipse pode ser dividido em duas perícopes. Nesse capítulo o autor João trata a respeito de 2 das sete trombetas descritas entre os capítulos 8 e 11 do livro. As trombetas de número 5 e 6 são descritas no capitulo em estudo, como já foi dito. O relato de cada uma representa uma perícope no capítulo. A primeira perícope se encontra entre o primeiro e o décimo segundo versículo do capítulo. O título presente na abertura do capítulo: “A quinta trombeta” anuncia o assunto que será abordado ali.
Da mesma forma, o décimo terceiro versículo, do mesmo capítulo traz o seguinte subtítulo: “A sexta trombeta”, onde mostra que a partir daquele versículo se inicia uma segunda perícope, que se encerra no verso 21, último versículo do capítulo, formando assim uma segunda perícope. Esse capítulo, assim como todo o livro é cheio de símbolos, os quais para se entendido é necessário de uma visão panorâmica do assunto, como também saber a que está se referindo a determinada profecia, que no caso do capítulo nove trata sobre as sete trombetas que anunciam as sete pragas que acometerão a terra até o fim do tempo da graça.
1ª Perícope – Quinta Trombeta – Ap. 9. 1-12
9:1 O quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caíra sobre a terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo.
9:2 E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como fumaça de uma grande fornalha; e com a fumaça do poço escureceram-se o sol e o ar.
Nesses dois primeiros versículos é dada a introdução sobre a ação da quinta trombeta. A partir desse capítulo, os males anunciados pelas últimas trombetas apresentam características diferentes das anteriores, a partir desse capítulo pode-se observar que as profecias anunciam uma ação demoníaca com detalhes macabros: “... poço do abismo”, v1. Esse termo representa um lugar de aprisionamento, que é visto em versículos posteriores, a exemplo do cap. 11.7: “... a besta que sobre do abismo...” e no cap. 20.3 “E lançou-o no abismo...”.
A frase: “... uma Estrela que do céu caíra sobre a terra”, v1 já apresenta um símbolo, a Estrela, que representa um anjo responsável pelo julgamento divino, segundo alguns estudiosos. A “Estrela” aparece também como um ser ativo no versículo 2: “E abriu o poço do abismo...”.
Analogicamente esse anjo pode relacionar-se também ao próprio demônio, quando Satanás foi destronado após querer ocupar o lugar de Deus, como está escrito em Isaias 14.12: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitas as nações!”
Até o versículo 14 é citado várias pragas que atormentarão a terra, a exemplo de gafanhotos presente no verso 3: “Da fumaça saíram gafanhotos sobre a terra...”, que representam um grande numero de demônios e suas ações intensas na terra.
No versículo 4 - “Foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm na fronte o selo de Deus” - é visto uma intervenção divina sobre a ação demoníaca, erva da terra, verdura e árvore alguma são protegidas, ou seja, os gafanhotos não têm poder sobre elas, apenas sobre “... homens que não têm na fronte o selo de Deus”, v4.
È visto aqui uma associação aparentemente confusa: erva, verdura e árvores com homens. Na realidade, a mensagem aqui é simbólica. Os três objetos protegidos representam na verdade os crentes, aqueles que ainda estão na terra, mas pertencem a Deus, que exerce sobre eles proteção soberana.
Ao decorrer dos demais versículos, ver-se a intensificação dos estragos produzidos pela quinta trombeta, que de forma inevitável assombram e atormentam “... homens que não têm na fronte o selo de Deus”, v4. Estes desejaram a morte, mas não acharão: “Naqueles dias os homens buscarão a morte, e de modo algum a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles” – v6. Isso mostra que a iniqüidade e a impenitência presente no mundo iníquo e desobediente a Deus receberão retribuição e castigo divino, como é mencionado em Romanos 1.18: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça e dos homens que detêm a verdade em injustiça”.
Os versículos apresentam outros castigos e a também faz conhecer o rei do abismo, chamado de anjo do abismo, refutando o que no início foi dito: “Tinham sobre si como rei o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é Abadom e em grego Apoliom”, v11.
A perícope se encerra com a profecia de mais duas trombetas, chamadas de “ai”: “Passado é já um ai; eis que depois disso vêm ainda dois ais”, v12. A partir daí começa a segunda perícope do capítulo 9, do livro da revelação.
2ª Perícope – Sexta Trombeta - Ap. 9. 13-21
A partir do versículo 13, João começa a falar sobre a sexta trombeta e suas conseqüências.
“O sexto anjo tocou a sua trombeta; e ouvi uma voz que vinha das quatro pontas do altar de ouro que estava diante de Deus”, v. 13.
No versículo 14 ver-se uma ordenança divina para que o sexto anjo solte outros 4 anjos até então presos: "a qual dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: Solta os quatro anjos que se acham presos junto do grande rio Eufrates”. Estudiosos afirmam que esses 4 anjos são demônios porque anjos de Deus não vivem presos, reafirmando o que foi discutido na primeira perícope, de que a “Estrela” era um anjo mal, porquanto demônio.
“E foram soltos os quatro anjos que haviam sido preparados para aquela hora e dia e mês e ano, a fim de matarem a terça parte dos homens” – v15. Nesse versículo é vista a soberania de Deus, onde é destacada a sua onisciência e onipotência, pois o fato anunciado tem data e hora certa para acontecer, das quais só Deus é sabedor, como também o é visto o poderio soberano de Deus, que para cumprir Seus propósitos até os demônios lhe obdecem e agem segundo sua ordenança.
Os versículos seguintes destacam as coisas futuras que vão acometer a terra, assim como vêm acontecendo nos relatos das trombetas anteriores, porém nessa sexta é dada uma maior evidência: “O número dos exércitos dos cavaleiros era de duas miríades de miríades; pois ouvi o número deles” – v16. Miríade pode ser traduzida por milhões, cada miríade significa 100 milhões, então se pode dizer que eram duzentos milhões o número dos exércitos dos cavalheiros.
Esses duzentos milhões de cavalheiros são entendidos de diferentes formas por intérpretes bíblicos, alguns dizem que representam espíritos demoníacos vindos do abismo outros entendem que são tropas de cavalaria, ou seja, exércitos reunidos em uma batalha.
“E assim vi os cavalos nesta visão: os que sobre eles estavam montados tinham couraças de fogo, e de jacinto, e de enxofre; e as cabeças dos cavalos eram como cabeças de leões; e de suas bocas saíam fogo, fumaça e enxofre” – v 17, nesse versículo percebe-se a semelhança do castigo que Deus enviou a Sodoma e Gomorra – “Então, o Senhor fez chover enxofre e fogo, do Senhor desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra” – Gn. 19.24, o que mostra mais uma vez o castigo de Deus sobre os que andam na desobediência e pecado contra Deus.
Nos versículos 20: “Os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das obras das suas mãos, para deixarem de adorar aos demônios, e aos ídolos de ouro, de prata, de bronze, de pedra e de madeira, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar” e 21: “Também não se arrependeram dos seus homicídios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos”, mostram até onde vai a depravação do homem sem Deus, que não nem diante do castigo divino, mas continuam nas suas práticas pecaminosas.
O versículo 21 destaca alguns pecados: homicídios, feitiçarias, prostituição, furto, práticas presente na atualidade, o que reafirma que as trombetas são uma anunciação de acontecimentos futuros, e que o castigo divino revelado em Apocalipse é algo do qual não se pode fugir, pois assim como Sodoma e Gomorra foram destruídas por causa do seu pecado, o mundo pecaminoso de hoje também irá se entregue a atuações de demônios, que por ordenança divina irão destruir todos aqueles que desprezam a graça de Deus, o que vai resultar no fim dos tempos, os quais são detalhados em todo o livro de Apocalipse, mas a Igreja Santa, obediente será salva, pois Deus é o seu Senhor soberano. Aleluia!
Tradução Formal
1 E o quinto anjo tocou a trombeta; e vi (uma) estrela de o céu caída para a terra, e foi dada a ele (ou: a ela) a chave do poço do abismo 2 e abriu o poço do abismo, e subiu fumaça de o poço como fumaça de fornalha grande, e foi escurecido o sol e o ar (por causa) de a fumaça do poço. 3 E de a fumaça saíram gafanhotos para a terra, e foi dado a eles poder como têm poder os escorpiões da terra. 4 E foi dito a eles que não danificassem a erva da terra nem toda a coisa verde nem toda árvore, exceto os seres humanos os quais não têm o selo de Deus sobre as frontes. 5 E foi dado a eles que não matassem a eles, mas que fossem atormentados meses (por) cinco, e o tormento deles como tormento de escorpião quando picar (uma) pessoa. 6 E em os dias aqueles buscarão as pessoas a morte e de modo nenhum acharão a ela, e desejarão morrer e foge a morte de eles. 7 E o(s) aspecto(s) dos gafanhotos semelhante a cavalos preparados para batalha, e sobre as cabeças deles como coroas semelhantes a ouro, e os rostos deles como rostos de pessoas, 8 e tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os dentes dele como de leões eram, 9 e tinham couraças como couraças de ferro, e o som(=barulho) das asas deles como som(=barulho) de carros cavalos de muitos correndo para batalha, 10 e tem caudas semelhantes a escorpiões e ferrões, e as caudas deles o poder deles para causar dano a os seres humanos (meses) por cinco, 11 têm sobre eles (por) rei o anjo do abismo, nome(=cujo nome) a ele em hebraico (é) Abadom, e em a língua grega (por) nome tem Apoliom. 12 O ai primeiro passou; eis vem (=vêm) ainda dois ais depois de estas coisas. 13 Eo sexto anjo tocou a trombeta; e ouvi voz uma de os [quatro] chifres (=ângulos) do altar dourado diante de Deus, 14 dizendo o sexto anjo, o que tem a trombeta: Solta os quatro anjos atados junta a o rio grande Eufrates. 15 E foram soltos os quatro anjos preparados para a hora e dia e mês e ano, para que matassem a terça parte dos seres humanos. 16 E o número dos exércitos da cavalaria (era) duas miríades de miríades, ouvi o número deles. 17 E assim vi os cavalos em uma visão e os assentados sobre eles, tendo (eles) couraças cor de fogo e de jacinto e de enxofre, e as cabeças dos cavalos como cabeças de leões, e de as bocas deles sai fogo e fumaça e enxofre. 18 De (=por) três pragas estas foram mortos a terça parte dos seres humanos, por fogo e a fumaça e o enxofre saindo de as bocas deles. 19 a Pois força dos cavalos em a boca deles está e em as caudas deles, as pois caudas deles (são) semelhantes (a) serpentes, tendo (as caudas) cabeças e com elas causam dano.
20 E os restantes dos seres humanos, os que não foram mortos por pragas essas, nem se arrependeram de as obras das mãos deles, para que não adorassem os demônios e os ídolos de ouro e de prata e de bronze e de pedra e de madeira, os quais nem ver podem nem ouvir nem andar, 21 e não se arrependeram de os homicídios deles nem de as feitiçarias deles nem de a prostituição deles nem de os furtos deles.
Referências bibliográficas
MIRANDA, Valtair. Para Ler o Apocalipse. Resenha de Collins, Adela Yarbro. The combath myth in the Book of Revelation. in Orácula. São Bernardo do Campo, v.1. n.1, 2005.
SOARES, Dionísio Oliveira. Capítulo 2 - A literatura Apocalíptica - O gênero como expressão in Hesiodo e Daniel – As relações entre o mito das cinco raças e o sonho da estátua de Nabucodonosor. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro, PUC. 2006. Pg. 91-121.
AMARAL, André Luiz. Considerações sobre Pesquisa das Origens da Apocalíptica in Orácula. São Bernardo do Campo. 3.6. 2007.
ALMEIDA – Revista e Corrigida – Bíblia de Estudo Pentecostal – Editora CPAD – 1995.
(Novo Testamento Interlinear grego português. Barueri, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB. 2004).
OBS: Esse estudo foi um trabalhao realizado por mim, Izabel Silva, para o curso de teologia da Universidade Metodista de São Paulo - Pólo de Campina Grande - PB.